Novo imóvel está a 5km do comprador 18/04/2011 via O Estado de S. Paulo - São Paulo - SP
[O Estado de S. Paulo - São Paulo - SP] - 17/04/2011
Procurar é o que tem feito o estudante de direito Marceu Perroni, 22 anos. Há dois anos ele, que é noivo de Danila, residente no interior do Estado, procura um imóvelno bairro do Itaim, na zona sul da capital.
A demora para achar o apartamento ideal, tem vários fatores, segundo ele. O principal é que Marceu não abre mão de morar no bairro onde nasceu. E o apartamento precisa ter dois quartos, para receber os pais da noiva, que devem visitar a filha em São Paulo. O preço é outro fator que emperra a escolha. “Os novos estão caros. Optei por buscar usados.” Para encontrar, ele utiliza a internet como ferramenta de busca, consulta imobiliária se anda pelas ruas do bairro em busca de placas de “Vende-se”.
A história de Marceu ilustra em parte o comportamento do brasileiro na hora de comprar imóvel: o que vale na busca por um imóvel é sua localização. Levantamento obtido com exclusividade pelo Estado aponta que a distância entre o imóvel onde o comprador está e o local onde ficará seu próximo imóvel é, em média, de cinco quilômetros. O índice varia de acordo com o valor do imóvel e a renda do comprador, sendo que quanto mais caro é o novo lar, mais perto está da sua antiga casa.
O dado faz parte do perfil de quem procura um imóvel residencial em São Paulo , feito pela Lopes Inteligência de Mercado com base em 8.158 escrituras da região metropolitana da cidade em 2010 (leia mais abaixo). “As pessoas não compram o imóvel em si, mas o benefício que ele traz”, afirma o professor da Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil (ADVB), Júlio Pires.“Para os brasileiros, a casa própria é um dos principais objetivos da vida.”
Os brasileiros têm um comportamento diferente de europeus e norte-americanos no processo de compra. O brasileiro, segundo Pires, se prende a raízes, procurando bairros familiares ou perto de quem conhece. “Em média, ele se muda a cada dez anos, enquanto o americano troca de casa a cada quatro.” O vice-presidente de Imobiliário do Sindicato da Construção de São Paulo (Sinduscon-SP), Odair Senra, também identifica diferenças claras. “O brasileiro nem considera aplicar o dinheiro e viver de aluguel, como é comum em muitos países.”
Apesar do desejo da casa própria ser comum à maioria dos brasileiros, as diferenças existem na hora de escolher. O temor, por exemplo, que aparece na hora da compra varia segundo a classe social. Uma pesquisa realizada pelo instituto de pesquisa Data Popular com 3.005 pessoas em 35 municípios, em 2010 revela que o maior medo dos compradores das classes A e B é não receber o imóvel depois de pagar por ele. Já entre os participantes das classes C, D e E, o que tira o sono é não dar conta de pagar a dívida. Novo e usado.
Segundo Klausner Monteiro, diretor nacional de vendas da construtora Rossi, do primeiro contato até o fechamento do negócio,em geral correm três meses. “A demanda pelos novos empreendimentos é grande, por isso é preciso ser rápido”, afirma. Mas quem prefere imóvel usado, leva muito mais tempo em relação à escolha de um novo. “Quem compra um antigo, compara bastante e é mais exigente”, diz o presidente do Conselho Regional dos Corretores de Imóveis de São Paulo (Creci- SP), José Augusto Viana Neto. Segundo ele, o tempo até bater o martelo chega a ser o dobro daquele gasto por quem está em busca de um imóvel um novo.
O geógrafo Marcelo Abrunhosa, 40 anos, comprou seu primeiro imóvel em 2009, no bairro do Tatuapé, zona leste de São Paulo. Neste ano, após três meses pesquisando o mercado, está adquirindo outro apartamento, desta vez usado, com 75 m2 . O tamanho do primeiro imóvel, 50m2 era suficiente para Marcelo e sua mulher, Cristina, até a chegada do primeiro filho do casal, há quatro meses. “Queríamos estar próximos da mãe dela, que mora em Moema, para nosso filho crescer perto da avó”, diz ele. A decisão fez com que o apartamento do Tatuapé fosse colocado à venda. Agora, o casal prepara a mudança para o novo lar, a sete quarteirões da sogra.
Na hora de comprar um imóvel, novo ou usado, a experiência de vida e o gênero são determinantes para a escolha. “Os casais jovens escolhem imóveis pequenos e sem grandes luxos. Eles adquirem a habitação que cabe no orçamento e fazem um financiamento de longo prazo”, diz o professor Júlio Pires. “A partir do segundo imóvel, as pessoas passam a pensar em tamanho. No terceiro, são atraídos pelo lazer”, completa o consultor.
Na hora de escolher, os jovens e os mais velhos se diferenciam pela habilidade na seleção. “Os antigos se preocupam com detalhes como a posição do sol e o andar do apartamento. Eles também querem saber se existem igrejas, mecânicos e quais os serviços oferecidos pelo bairro. O jovem é impetuoso e, às vezes, peca nesses detalhes”, diz o presidente do Creci-SP, José Augusto Viana Neto. Para Elbio Fernández Mera, vice-presidente de Comercialização e Marketing do Secovi-SP, os casais jovens não se preocupam tanto, pois geralmente os dois trabalham,estudam e ficam pouco em casa. “O idoso passa mais tempo no imóvel, enquanto os jovens praticamente só dormem”, afirma o vice do Secovi.
Além das questões de idade, os homens e mulheres têm visões diferentes do que querem. “O homem é sempre mais emocional: pensa na quadra e na piscina do prédio. A mulher é prática e quer saber do tamanho da cozinha, da ventilação da área de serviço, trajeto para o trabalho, para a escola das crianças”, diz o gerente de negócios da Lello Imóveis, Cristiano Araujo Souza. “Por isso, evito mostrar a habitação para o casal separadamente”, explica Souza. E apesar de serem os homens que mais compram – como revela levantamento da Gafisa, que aponta o perfil do comprador como majoritariamente masculino – segundo todos os especialistas ouvidos pela reportagem, o fator fundamental para a aquisição do imóvel é a mulher. “Normalmente, a mulher decide, pois a esposa é o pilar da casa. Ela pesa o que é melhor para os filhos e para a família”, diz o diretor nacional da Rossi, Klausner Monteiro. Para Júlio Pires, a regra é a seguinte:“ Se ele gosta e ela não gosta, não há venda. Se ele não gosta, mas ela gosta, a venda é feita”.